JORGE BRAZ: “PAUSA TÉCNICA SÓ FAZ MILAGRES QUANDO HÁ HÁBITOS”

Portugal Football Summit

Selecionadores nacionais masculinos de futsal de Portugal e Brasil, Jorge Braz e Marquinhos Xavier, e a selecionadora espanhola feminina da modalidade, Cláudia Pons, juntos numa conversa apaixonante

"Para Além da Tática: O Futuro da Intervenção do Treino no Futsal" era o mote para a conversa e Jorge Braz começou por explicar que, quando um treinador faz quatro alterações ao mesmo tempo, não é porque os jogadores estão cansados. É muito mais do que isso. “É uma necessidade clara devido ao que o jogo exige, em que, muitas vezes, e temos a permissão das regras, jogamos e alteramos, pela exigência do jogo. Tem a ver com o que o jogo está a exigir naquele momento, que jogo se trata, e o que gerimos”, disse, realçando que o treinador está a pensar em muita coisa ao mesmo tempo: “Muitas vezes, com o foco no jogo, nesses dois ou três minutos, pensar quem sai, quem entra, perceber o que o jogo exige estrategicamente, que cenários antecipamos”.

“Não gosto de ir por modas e o que tentamos todos é estar uns passos à frente, é tentar inovar. Intensidade é importante, mas há coisas à frente disso na decisão, quem entra, quem sai... Vou antecipar e até que ponto ser criativos e ser fora da caixa na forma como pensamos. Num momento destes, é importante pensarmos todos como inovamos o que andamos a fazer”, acrescentou.

Enquanto defendeu que “errar leva ao acerto e leva a ganhar e nos leva a evoluir”, falou nas pausas técnicas que correm Mundo... “A pausa técnica só faz milagres quando há hábitos criados. Naquele momento os jogadores podem estar a esquecer-se, e é como com os filhos, tem de levar uma lambada e ouvir que o caminho é por ali. Se não acreditarem ou não existem hábitos, a pausa técnica não faz milagres.”

Enquanto elogiou a recente conquista dos Sub-19 (campeões da Europa), explicou a expressão “par e bola” e como a atenção do treinador vai muito para além disso: “Tem a ver na forma como dominamos o adversário direto e a bola. Para onde olhamos. Uma das coisas básicas é dominar o par e bola, olhar para duas coisas mesmo tempo. Já nós temos de gerir muito mais, como vamos gerir tantas pessoas, tanto aspeto importante, e como olhamos pra o mais relevante naquele momento do treino, da reunião, da refeição... O par e bola obriga a um scanning constante, já os treinadores o ideal é fazer rotações 360 graus. E não conseguimos”, disse, deixando elogios a todos os que com ele trabalham diretamente.

A importância da comunicação

Marquinhos Xavier explicou que é fundamental a forma como o treinador faz chegar a mensagem ao jogador. “A comunicação é uma das armas mais poderosas. Além do processo do treino, a forma como comunicamos e passamos as ideias e os atletas tem capacidade para apresenta-las.”

O técnico realçou que, no Brasil, “valorizamos jogo livre, sem amarras, e o treinador tenta organizar tudo em caixas como se fosse um mundo perfeito. E não é assim que acontece. Desenvolvemos identidade que traz o maior combustível e qualquer área, a paixão, que quando baixa o nível, vamos para outra fonte, que é o hábito. Em alguns momentos não é possível estar apaixonado todos os dias e os hábitos vão sustentar a jornada, os hábitos mais humanos do atleta. Especializamos em técnica, tática, física, e a parte emocional. Mas acrescento quinta dimensão: conectar atletas à sua origem e como criaram paixão pelo desporto que é a sua profissão”.

“Futsal feminino espanhol evoluiu muito”

Cláudia Pons realçou que “o futsal feminino evoluiu muito”. “Há mais recursos que há uns anos. Há uma melhor preparação, o treinador tem novas formas de preparar treinos e jogos, há análise de vídeo, controle de cargas, tudo isso ajuda na evolução”, afirmou.

Para a treinadora, “temos de ter muito clara a nossa forma de trabalhar, a gestão da equipa é fundamental para poder minimizar a incerteza. Todos os elementos que podem ajudar a reduzir incerteza são importantes, suporte de vídeo, GPS, também inteligência artificial, como pode ajudar a prevenir lesões, todos estes elementos têm de ajudar a reduzir incerteza. Na final, a capacidade de nos adaptarmos e analisar dados vai ajudar a estar mais preparados ou resposta mais rápida e adequada a esses momentos”.


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